Archive for novembro, 2012


O primeiro passo

Eu tava com uma frase na cabeça há dias, aí botei no google e descobri que é uma música do Chico Science. Acho que eu nunca prestei muita atenção no que ouvi dele, mas a frase é ótima.

 

Basta um passo à frente, e você já não está mais no mesmo lugar.
Tanta coisa acontecendo na minha vida sem que eu tivesse pensado a respeito, e algumas até contra a minha vontade, que comecei a pensar sobre as mudanças. As que a gente quer, as que a gente provoca, as que a gente tem que saber lidar. É muita coisa.
Esse é um pensamento que talvez eu não consiga encerrar neste post, e talvez eu precise pensar mais um pouco pra conseguir expressar tudo que eu penso, mas a principal idéia é justamente essa: de que se você der um pequeno passo em direção ao que quer, já não vai mais estar no mesmo lugar. Já vai estar um pequeno passo mais perto do que quero. Um pequeno passo mais distante do que não quer.
Outro dia estava jantando com uns amigos e estávamos conversando sobre escolhas. Uma das meninas presentes, que eu ainda não conhecia ainda, estava nos contando que não sabe se permanece na cidade, se vai pra outra cidade fazer o doutorado, se vai fazer outro curso. Ela estava em dúvidas sobre o que escolher, e quais critérios deveria levar em consideração ao tomar sua decisão. Aí, um dos meus amigos disse uma coisa muito certa, ele disse que às vezes é mais importante saber do que você está disposto a abrir mão do que o que você quer manter.
Porque as mudanças na vida também dependem das escolhas que a gente vai fazer a partir do momento que decide mudar. Comida, horários, pessoas, investimentos, todas as escolhas têm que estar convergindo para a mudança que queremos, senão não faz muito sentido, senão é como dar dois passos para frente e no minuto seguinte mudar a direção e dar mais um passo pro lado. O resultado disso é fácil de prever: é ficar andando em círculos, ao redor do próprio rabo e não chegar a lugar nenhum.
Inspirada pelas queridas Taís e Paula, que estão aos pouquinhos mudando suas vidas pra melhor, também vou fazer um planejamento pra minha vida. Quero ser uma pessoa mais tranquila, mais leve, mais saudável, mais desapegada, mais estável financeiramente falando, com mais estudo, com mais tempo pra mim. Quero ser uma pessoa com mais qualidade do que quantidade. Quero um trabalho que me dê prazer e que me permita planejar a vida. Quero poder estar mais satisfeita comigo mesma, em todos os sentidos. Ok, eu sei, pra me organizar de verdade é preciso estabelecer metas claras, com prazos, e traçar ações para alcançar todos os objetivos. Mas estou apenas dividindo as ansiedades, dando o primeiro passo.
Porque eu cansei mesmo de ficar no mesmo lugar.

Os medos

Esta semana estava vendo filmes de terror. Esses da franquia Atividade Paranormal. Devo dizer que fiquei com medo – essas coisas de fantasmas e coisas que não conseguimos explicar me assustam mesmo, e toda a tensão do filme, depois que passou, me levou a pensar naquilo que tenho medo na vida real. Do que eu tenho medo hoje.

Hoje eu tenho medos bem diferentes daqueles que tinha há um ano atrás. Há um ano atrás eu ainda tinha um casamento, tinha uma vida estável, vivia o que eu achava que era um conto de fadas na realidade, e meus medos giravam em torno de não poder engravidar, ou de não conseguir ser promovida no emprego, ou de não conseguirmos ir pra praia no final do ano. Coisas que eram verdadeiros monstros para mim, há um ano, agora são apenas sombras bobas.

 

Ok, ok, eu tinha medo de morrer. Muito. E tinha medo de ser vítima da violência urbana, e disso ainda tenho, um pouco. E tinha um tanto de medo de perder o amor do marido (hoje, meu ex). Mas esse medo me parecia mais uma obrigação do que uma ameaça real. Afinal, a gente se amava, e era pra sempre, como é que eu poderia temer uma coisa que não poderia nunca acontecer?

Mas aconteceu, e hoje eu vejo quanta coisa já mudou dentro de mim desde aquele dia em que brigamos e terminamos, desde que comecei a terapia, desde que comecei o blog. Desde que mudei a perspectiva da minha vida.

Hoje meu medo é não conseguir amar novamente. Paixão acontece, já aconteceu comigo e eu sei que vai acontecer de novo, mas não é disso que estou falando. Estou falando de amor. De entrega. De intimidade. De estar tranquila e me sentir segura ao lado de outra pessoa. Esse só não é maior porque meu maior medo é de me machucar novamente. De doer, de que a ferida feita tenha sido tão grande que nunca mais vá fechar. Que meu coração nunca mais vá funcionar como antes.

Eu tenho medo de não poder mais confiar nas pessoas, de ficar sempre com um resquício de desconfiança, de insegurança. Tenho medo de nunca mais conseguir baixar a guarda pra ninguém, e com isso afastar todo mundo por causa do muro tão alto que coloquei ao meu redor só pra me proteger.

Eu tenho medo de que meus amigos escolham ficar do lado do ex. Isso me apavora. Com quem eu vou contar, em quem vou confiar? E como assim, meus amigos vão escolher ficar do lado do ex? Meu medo é que eu não seja mais uma pessoa legal, ou tenha chorado tanto e enchido tanto os ouvidos deles com as minhas mágoas e tristezas que eles tenham cansado de mim. Será que eu ainda consigo ser uma pessoa legal? Será que eu consigo de novo ser divertida, ser uma boa companhia, ser alguém que eles querem ter sempre por perto?

Meu medo é continuar tendo todos esses medos gigantes, poderosos, e passar a viver na sombra deles, e nunca mais me libertar, não saber nunca mais viver sem eles.

Vou dizer que mesmo sendo medos bem maiores, sem forma ou cara específica como eram meus antigos medos, todos esses agora estão relacionados diretamente a mim, e resolver ou não depende apenas de mim. Depende de eu ter coragem ou não de olhar para eles de frente e decidir enfrentar o fantasma, o escuro. Ainda assim por mais pavoroso que possa parecer, acho que nada vai ser tão grandioso e opressivo quanto o dia do fim do meu casamento.

Quando a gente vê toda a vida que levamos tantos anos construindo desmoronando tão rápido quando o outro diz “eu não amo mais você” qualquer outro monstro ou fantasma ou medo já não tem tanta força.

 

O número

Quantos sapos a gente precisa beijar antes de um deles realmente virar príncipe?

Ok, ok, a imagem é bem clichê, mas não é isso que a gente quer? Além de ser respeitada no trabalho, ter os mesmos direitos, e ter saúde, e todas essas conquistas feministas que a gente aproveita mesmo que às vezes não dê o devido valor, a gente quer tudo isso e também amor. E também alguém que nos trate bem, que nos encha de beijos, e que nos acompanhe nos planos de família, viagens, filhos, essas coisas. Ou estou errada em querer tudo? Em achar que mereço tudo?

Então repito a pergunta: quantos sapos a gente precisa beijar antes de um deles realmente virar príncipe?

Esses dias passou na tevê um filme bem bobinho, chamado Qual seu Número?, com aquela atriz loirinha dos filmes do Todo Mundo em Pânico. O filme gira em torno da dúvida dela sobre se já saiu com muitos caras, se já transou demais, qual é o número médio de caras com quem uma mulher fica antes de encontrar o cara ideal.


Claro que “cara ideal” é um conceito bem flexível, o que é ideal pra mim agora já não significa a mesma coisa que significava há uns meses atrás, e o que é ideal pra mim pode não ser pra você, e até a Ally (a personagem principal do filme) perceber isso, ela ouve bobagem das amigas, da mãe, e se sente feliz até não poder mais. Ela ignora o que ela sente e o que ela acha certo para a vida dela, pra obedecer uma reportagem estúpida sobre com quantos homens a mulher pode transar sem ser demais.

Aí, como ela decide que não pode ultrapassar o número 20, que o vigésimo cara com quem ficar tem que ser o cara com quem ela vai casar, ela faz uma lista de todos com quem já transou pra escolher um deles, pra reatar com algum deles.

No filme, ela tem que passar por todos os ex, tem que rever todos os “erros” que cometeu, revisar todas as lições que aprendeu, até estar pronta pra encontrar o cara certo.

Licenças poéticas à parte, com quantos caras errados a gente precisa estar e aprender coisas até encontrar o cara certo?


Nessas minhas aventuras de solteirice, já fiquei com alguns. Cheguei a me apaixonar, a me entregar, fiz tudo o que pude para dar certo, mas ainda assim não deu, ou o cara sumiu, ou eu simplesmente me desinteressei. Então qual é o segredo, qual é a fórmula pra dar certo?

Antes de começar a namorar meu ex, eu saía bastante com as amigas, me divertia muito, beijava muito por aí, e estava tranquila. Quando conheci meu ex, não dei muita bola pra ele, nós conversávamos, nós ríamos pra caramba, mas eu nem cogitava ficar com ele. Acho que nem ele cogitava ficar comigo, ao menos não na época. A gente se divertia bastante, disso eu me lembro, e era uma coisa leve, e despreocupada. E começou aos poucos: sem que eu percebesse ele passou a ocupar todos os espaços livres que eu tinha, primeiro com jantares, depois com filmes à tarde, depois com almoços e cinemas e baladas. E quando eu percebi, já não conseguia mais pensar em fazer qualquer coisa sem convidar ele também.

Mas onde está a medida? Como é que a gente chega nessa tranquilidade? Quando é que a gente pode se sentir realmente pronta pra se apaixonar e amar de novo de verdade?

Acho que tenho que fazer como a personagem do filme, e não me preocupar mais com o que as pessoas acham que eu devo fazer, ou com quem devo me envolver. Não sei se vai ser tão engraçado e fácil como numa comédia romântica, mas ao menos é a minha vida, são as minhas escolhas. Vai que é isso que funciona.