Archive for setembro, 2012


O sonho

 

A vida anda boa, tenho que confessar. Confusa, mas boa. A dor já não é tão difícil de aguentar e é claro que ter alguém pra me distrair, pra me entreter, pra me fazer sorrir de novo, ajuda bastante. Mas o inconsciente às vezes trabalha contra a gente, e venho sonhando com o ex há alguns dias. Quase que dia sim, dia não, sonho alguma coisa relacionada com ele, ou acontecendo na casa que era nossa, ou revivendo alguma situação em que estávamos juntos.

Num desses sonhos, eu tinha que chegar em casa e cozinhar para ele e para umas visitas, e eu me sentia muito incomodada não só com as visitas, que eu não sei quem eram mas também com o fato de que não havia comida na casa, apenas arroz e milho de pipoca. E ainda assim, misturados em potes de vidro, e eu me via obrigada a ficar na cozinha, e separar grão por grão, e fazer arroz em uma panela e pipoca na outra. E ainda tinha que lidar com o ex entrando de tempos em tempos na cozinha pra reclamar que as visitas estavam com fome, e eu era uma péssima esposa de não ter comprado comida nenhuma.

 

Num outro sonho, eu viajava sozinha para longe, e chegava num bar para descansar, e o garçom vinha me avisar que tinha uma ligação pra mim no balcão. Eu corria para o telefone, e ouvia a voz do ex, chorando, me dizendo pra voltar, porque ele tinha batido o carro, e estava sem a chave de casa, e precisava de mim, e se eu não voltasse ele iria dormir na rua, na praça na frente de casa. Eu saía correndo do bar, e vinha o garçom atrás de mim pra me lembrar que eu tinha que pagar a conta, e eu apenas dizia, mas eu não pedi nada, e meu marido precisa de mim, e o garçom vinha o tempo inteiro atrás de mim, e eu precisava pedir carona na estrada pra conseguir voltar pra casa e chegar na frente do prédio e via os sapatos do ex na porta, e o porteiro me avisava que ele estava dormindo na praça, e eu me via atravessando a rua, com o garçom ainda atrás de mim, caminhando ao redor das árvores pra encontra-lo, porque ele ficava me chamando mas ao mesmo tempo ficava fugindo de mim. Eu ouvia a voz dele me chamando, me pedindo ajuda, mas não conseguia nem ver nem enxergar ele.

 

Neste, de hoje, eu estava saindo de um hospital, que tinha uma loja e precisava comprar um vestido para um casamento. E quando entrava na loja encontrava os pais do ex, super arrumados, prontos pro casamento, como se estivessem me esperando. Eles me cumprimentam, bem felizes, e dizem para eu ir com eles, que eles me dão uma carona, e eu ficava preocupada com meu vestido, que ia amassar, pois havia mais gente no carro conosco. E íamos por uma estrada muito estranha, comprida, vazia, com absolutamente nada em volta, e eu só pensava em achar um ponto de táxi ou uma parada de ônibus pra poder descer daquele carro. Só que enquanto isso a minha ex-sogra ficava o tempo todo me dizendo pra aceitar o filho dela de volta, porque ela tinha certeza de que ela ainda me amava e que ele queria muito voltar, e que eu estaria cometendo um erro tremendo se não voltasse pra ele. E nesse meio tempo nós chegávamos na festa, um salão muito feito, e todo mundo vinha falar comigo e me abraçar, e me dizer pra eu me vestir, me arrumar depressa, e eu só conseguia me concentrar numa parede horrível preta ao longo de todo o salão, cheia de marcas de mãos engorduradas.

 

Acordei enojada, me sentindo muito mal.

 

Não sei o que esses sonhos significam, e não sei se isso vai fazer muita diferença, agora.
O que eu sei é que não aguento mais ficar dividida, com os pensamentos misturados entre estar feliz por ele ter seguido em frente e estar feliz com a nova namorada, entre estar com raiva por ele ter seguido em frente tão rapidamente, e entre um medo absurdo de me deixar envolver por esse homem novo na minha vida, que me manda mensagem, e me pergunta como eu estou e me estende a mão sem me pedir nada em troca.

 

Eu estou me controlando por demais pra não invadir nenhum espaço e ir com calma com ele, até porque eu não sei aonde isso vai parar, isso desse encantamento inicial. Mas também não quero ir com muita sede ao pote, não quero assustar ele com o tamanho da minha tristeza (que eu ainda sinto às vezes, não vou mentir pra vocês), nem parecer carente demais e ficar exigindo mais coisas do que ele pode me dar neste momento.

 

Afinal, eu tava acostumada com um marido, um convívio diários e intenso e um hábito criado de nos falarmos várias vezes durante o dia, ou trocarmos mensagens pra falar as coisas mais bobas. E, bem, eu tenho me lembrar que eu não tenho mais um marido, e qualquer coisa que for acontecer a partir de agora, tem que ser construído e combinado e descoberto entre nós dois.
Mas ele tem me ajudado sim, tem sido carinhoso comigo, tem me ajudado a curar as feridas maiores, ele não tem pressa, e parece que eu consigo respirar de novo. Tem dias ruins, em que a vontade de chorar bate em mim como uma onda de tsunami. Mas tem dias muito bons, em que eu passo sem pensar na tristeza ou na saudade.

 

Acho que estou melhorando. Acho que essa dúvida faz parte do processo. Mas acho que o que tem mais me ajudado é estar sendo absolutamente honesta comigo mesma, e avaliando o tempo todo meus sentimentos, prestando atenção o tempo todo no que estou sentindo e em como estou reagindo a esses sentimentos. Isso a minha psicóloga tinha me dito pra fazer lá no início, um diário de sentimentos, e mesmo não sendo muito disciplinada de escrever dia a dia, está me ajudando a prestar mais atenção em mim.

 

Ela me disse, na consulta desta semana, que sonhar faz parte também do processo de cura. Como uma fervura que sobe, pra separar as impurezas do inconsciente dos desejos e transformações do consciente. Acho que faz sentido. Se for assim, acho que aguento mais alguns sonhos malucos desses. O que eu não aguento mais é estar dividida, no meio, sem ter saído do passado completamente mas sem ter chegado ainda no futuro.

A dança

Tumblr_ma5q62nn281qzkdnwo1_500
Tem momentos na vida em que agente não sabe bem o que vai acontecer, nem sabe muito bem por onde ir, mas de repente surge alguém que nos pega pela mão e nos olha nos olhos e diz que vai ficar tudo bem. 

E aí fica. 

Foi mais ou menos o que aconteceu comigo este final de semana. Saí com um conhecido, amigo de um amigo, porque ele insistiu muito. Vinha insistindo faz tempo, ligando, mandando mensagens, até que aceitei. Passei tanto tempo na vida sempre preocupada em controlar, em fazer certo, em não deixar espaços em branco que quando ele me pegou pela mão e me levou (primeiro no cinema, depois no restaurante, depois pela cidade) fiquei até espantada de como a vida pode ser divertida se a gente não está tentando prever e cuidar de tudo nos mínimos detalhes.

O cinema foi divertido, um desses filmes de menino, com perseguição e explosões. No restaurante, ele me perguntou o que eu gostava de comer, e me deixou olhar o cardápio, e me sugeriu exatamente o que eu queria comer (hambuguer, nham nham!). E durante todo o tempo a conversa foi leve, foi tranquila, e, o mais importante, ele me olhava nos olhos e queria me ouvir, saber a minha opinião, e me contava historinhas bobas e engraçadas pra me fazer rir.

E depois saímos pela cidade, caminhando até a casa dele. Sim, era uma armadilha, mas sim, eu deixei que ele me guiasse. 

Chegamos na casa dele, e eu comecei a ficar nervosa. E se ele quisesse me beijar e eu não quisesse mais? E se ele começasse a tirar a minha roupa e eu não quisesse mais? Todos esses “e se?” na minha cabeça e eu já não sabia mais o que queria, nem o que estava fazendo ali. Mas acho que ele percebeu toda essa confusão, porque sentou ao meu lado no sofá e apenas sorriu. Não tento pegar na minha mão, nem tentou me beijar, nem fez nenhum comentário de duplo sentido. Voltei a respirar normalmente, me acalmei e as dúvidas e questionamentos todos começaram a sumir.

Onde ele estava nesses últimos meses quando eu precisava desse olhar sem pressa, sem cobrança, pra me acalmar? Não sei. Mas fiquei feliz de não estar ali sozinha. Porque naquele momento não me senti sozinha. E o que seria da vida se não fossem esses momentos pra gente guardar, e lembrar e relembrar sempre que precisa?

A conversa continua, e antes que eu perceba ele levanta, me estende a mão e me tira pra dançar. E antes que eu entre em pânico total – o que fazer? E se eu não quiser mais? E se eu tropeçar? Como fazer? – ele não faz nada além de dançar. E olhar pra mim e sorrir. A gente continua dançando por não sei quantas músicas, até que ele diz no meu ouvido que não tem pressa. Que a gente não precisa ter pressa de nada.

E essas palavras derreteram o restante de dúvidas que eu tinha. Foi a mão estendida me conduzindo por um caminho que eu ainda não conheço bem, mas que parece ser divertido.

3020360411_1_3_pldqn5nh_large

A capacidade de amar

Tive duas semanas do cão no trabalho e não pude parar e postar. Minha cabeça ficou cheia de idéias, e não sei se é hormonal (essa coisa de TPM afeta mesmo a gente, né) ou se é alguma mudança em mim, interna, mesmo, mas não há melhor forma de descrever tudo além de como uma grande montanha-russa emocional.

A raiva diminui, a saudade apareceu ainda, algumas vezes, mas, na maioria das vezes, o que eu sentia era um grande alívio. Uma tranquilidade, um desafogo, como se as correntes que eu arrastava (mesmo sem querer, e às vezes sem perceber) tivessem desistido de mim. O que é bom. Alívio é sempre bom.
É como estar gripada durante muito e muito tempo e, de repente, de um dia pro outro, conseguir respirar normalmente, sem o peito chiar, sem a garganta arranhar.
Aí, numa das pequenas folgas que tive, aproveitei o convite e fui jantar na casa de uma amiga, com outros amigos. Aí, conversa vai, conversa vem, vinho pra lá e pra cá, chegamos no assunto que sempre chega: amor. Relacionamento. Corações partidos. Todos que estavam ali são amigos há muito tempo, e todos já passaram pela sua cota de relacionamentos que não deram certo e causaram muito sofrimento. Alguns ali não se recuperaram tão fácil. Todos apostavam que eu logo estaria 100% de novo. Eu duvidei.

Angelique_snowy_healing_heart

Aí essa minha amiga, a dona da casa, que é de uma felicidade contagiante mas que, de todos ali, era a com o histórico mais terrível de dores de amor, falou que eu não poderia deixar que outras pessoas definissem ou limitassem a minha capacidade de amar. Nas palavras quase exatas dela, porque eu já tinha tomado um bocado de vinho: “Ninguém, nenhum babaca poderia tirar de mim a capacidade de amar, de me entregar ao amor”.
Não porque o próximo cara por quem eu me apaixonar merece, mas porque eu mereço, ela disse. Claro que o próximo cara por quem eu me apaixonar vai merecer me ter por inteiro, 100% presente, com toda a minha capacidade de amar, mas eu mereço isso. Eu mereço experimentar todas as paixões, todos os amores por inteiro.
Sabe tudo da vida, essa minha amiga. Chegamos à conclusão de que eu ainda preciso fechar as feridas, preciso encerrar esse ciclo de alguma forma, antes de estar 100% pronta. E não adianta apressar as coisas, cada um tem o seu tempo.
Se o ex já está soltinho e namorando e fazendo grandes declarações de amor para a nova namorada, bem, então ele já não gostava de mim há muito tempo, e isso também eu vou ter que aceitar e organizar e superar. Porque ainda dói demais a idéia de que se ele superou tão rapidamente a nossa separação é porque já estava há muito tempo longe, desconectado, não me amando. Mas estou me apegando ao que minha amiga me disse e tratando de me amar. Não porque o próximo homem que amar merece, mas porque eu mereço.