Na sexta-feira tive um jantar com vários amigos, e foi muito divertido, e vivi, por alguns instantes, momentos de pura alegria, de estar ali com os amigos, criando momentos felizes e rindo e me divertindo.
Até que, num impulso automático, fui atrás do celular para ligar pra ele, porque já era tarde, e o meu piloto automático me dizia para apenas avisar que estava tudo bem e que eu chegaria tarde em casa.
Parei com o celular na mão.
Meu Deus, o que eu estou fazendo, pensei, mesmo tendo bebido algumas taças de vinho, e devo fazer uma prece diária pelos bons amigos que tenho. Naquele momento, um grande amigo meu viu que eu iria fazer alguma bobagem (ninguém nunca, em momento algum, deveria permitir alguém que bebeu operar seu telefone celular. É uma máquina bem mais potente e perigosa que maquinário pesado ou um ônibus escolar cheio de crianças. Mas isso é história para outro post) e veio conversar comigo. Ele me perguntou o que eu estava fazendo e eu não consegui mentir: disse que estava prestes a ligar para o ex para avisá-lo de que estava tudo bem.
É o hábito, ele disse, é mais forte do que a consciência. Mais forte até do que a dor.
E ele tem razão. Conseguimos escapar por alguns instantes para a sacada, para conversarmos sem que o assunto se tornasse um debate público. Já passei por esses debates públicos com os amigos, logo em seguida que saí de casa, e devo confessar que não foi o momento mais feliz da minha vida. Então, quando ele perguntou se eu não queria ir com ele fumar um cigarro na sacada, aceitei na hora, mesmo não sendo fumante. Era a senha para a conversa privada.
Ele me contou de novo a história de quando ele terminou com a namorada anterior, antes da atual que acabou virando a esposa, e me fez lembrar dos quase seis meses que passou fazendo todo o tipo de bobagem, desde ligar por várias madrugadas seguidas a bater na casa da menina para tirar satisfações com os pais dela, isso depois de se passarem alguns meses do término.
Eu me lembrava, e me lembrava também de tentar abrir os olhos dele, por diversas vezes, para evitar que ele fizesse algo de mais grave com relação a ela. Acompanhava nas festas, cuidava dele enquanto ele se acabava bebendo, alertava as pessoas à volta explicando que ele tinha recém saído de um relacionamento longo e que estava abalado. Ele me lembrou de tudo isso, me agradecendo por ser uma amiga tão atenciosa. Era o mínimo que eu poderia fazer, eu disse, afinal, os amigos servem pra isso, não? Claro, ele respondeu, e pegou no meu braço, olhando bem nos meus olhos e disse:
– E é por isso que eu quero que você esteja bem consciente disso, que você ainda vai fazer muita bobagem. Vai ter recaídas, vai querer ligar, vai acabar ligando, vai ficar olhando nas redes sociais o que aquele desgraçado (uma pequena observação: meus amigos são ótimos, só posso dizer isso!) postar, vai atrás dele no bar em que ele estiver, e vai ficar rondando, atrás de alguma migalha de atenção. Vai encher a cara, vai chorar pra caramba, vai acabar se envolvendo com alguém só pra chamar a atenção dele, vai fazer tudo isso, e talvez mais de uma vez. Mas tudo bem. É assim mesmo. Depois de tanto tempo juntos, a outra pessoa vira um hábito, um vício, um condicionamento do cérebro, uma rotina que é difícil de quebrar de um dia pro outro. Mas você vai ter que ser forte, e para isso precisa, primeiro, ter consciência de tudo que eu acabei de falar.
Já estava com os olhos cheios de lágrima quando ele acabou, e desesperada por um abraço, que chegou logo em seguida.
Aí ele me sacudiu um pouco, para dizer, pronto-passou, e disse, acho melhor a gente voltar pra festa senão o vinho acaba sem a gente.
Sim, voltamos, e eu tenho que confessar que acabei bebendo mais do que estava programado. E que chorei mais do que queria. E que cheguei em casa e vomitei mais do que imaginava que podia, e dormir por mais horas do que tinha planejado, com uma puta dor-de-cabeça maior do que eu podia aguentar. Mas com as palavras do meu querido amigo ainda martelando na minha cabeça.
Realmente, se eu tivesse que definir a minha condição atual seria a de um viciado em recuperação. Rehab absoluta de um amor perdido. Viciada em um relacionamento que não existe mais. E não existe desejo maior do que daquela substância que nos viciou, que alterou completamente a química do nosso cérebro e que agora está fora do alcance das nossas mãos.
Pesquisei algumas coisas na internet (entre uma olhada no facebook e outra) sobre como quebrar vícios e hábitos nocivos, e a maioria dos sites me diz que são necessários no mínimo 30 dias para quebrar a rotina que nos prende a um hábito ruim. Mas tem que ser uma decisão intencional e consciente. O primeiro passo, todos concordam, é ter consciência do hábito ruim, e de como isso afeta a minha vida. Se eu fosse fumante, teria que prestar atenção aos momentos em que decido parar tudo para botar o cigarro na boca e acendê-lo, e quanto tempo eu perco com isso, a cada vez que faço isso, e como eu me sinto, e de que forma as pessoas à minha volta reagem a essa minha atitude.
No meu caso fica mais complicado definir exatamente o que é o meu hábito ruim, pois é tudo relacionado com o ex: eu penso nele, eu lembro dele ao ver um programa de tevê ou ao ouvir uma música, eu corro para as redes sociais para checar se ele alterou seu status ou se adicionou alguma outra mulher ou se comentou qualquer coisa, eu quero falar com ele e ouvir a voz dele, eu quero saber os motivos ou ter respostas para as decisões que ele tomou (mesmo sabendo que é inútil), eu sinto falta do abraço dele, sinto falta do beijo, da presença dele na cama ao meu lado, eu penso nele na hora de cozinhar o jantar (era o momento em que conversávamos sobre nosso dia), eu sinto falta de conversar com alguém sobre o meu dia… e, nossa, a lista é infinita. Ou seja, se ele fosse uma pedra de crack, eu passaria pelo menos 90% do meu dia dividida entre pensar em fumar uma pedra de crack e achar um meio de conseguir a próxima pedra de crack.
Alguém me interna por favor porque reabilitação assim, solta no mundo, vai ser mais difícil do que eu imaginava.
Um dos sites que li apresentava um 3 Easy Steps para quebrar maus hábitos:
1. Faça o hábito de forma consciente
2. Escreva ou registre o que sente e o que pensa para entender o processo
3. Substitua o hábito por alguma ação menos nociva para si.
Parece fácil, né. Parece. Mas se eu conseguir fazer isso, sem ter recaídas, por 30 dias, um outro site me disse, eu consigo os próximos meses de forma mais tranquila. O negócio é quebrar a rotina, desacostumar, agir de outra maneira, substituir por qualquer outra distração, e se manter firme nisso até que a química do cérebro reaja e se altere para a nova realidade. Os primeiros 30 dias são os mais importantes, e é por isso que normalmente o tratamento de reabilitação demora, em geral, 28 dias (tem até um filme sobre isso, com a Sandra Bullock).
Um outro site (este link
aqui) me deu várias dicas sobre como agir durante o processo. Uma das dicas, que eu anotei no celular para me lembrar de tempos em tempo, é a do “Mas”. Funciona assim, sempre que eu perceber que estou tendo pensamentos negativos, ou, no meu caso, pensamentos voltados para o ex, serei obrigada dizer a mim mesma “é, mas…” e completar com algum elogio ou comentário sobre algo positivo que não esteja relacionado com o ex.
Assim: estou aqui novamente escrevendo um post todo triste porque não consigo me desligar da saudade dele MAS naquela sexta-feira não liguei, não mandei mensagem, e não deixei de me divertir com meus amigos (apesar das recaídas do pensamento, acabei desligando o telefone e não fazendo nenhuma bobagem).
Outra dica é manter a simplicidade. A vida já é muito complicada, então quando mais simples for o objetivo, quanto mais simples forem os substitutos do hábito ruim, mais fácil vai ser de serem mantidos. Dentro dessa decisão de simplicidade, o negócio é manter o foco e mudar uma coisa de cada vez. A cada 30 dias, um hábito ruim a ser mudado por vez. Se tiver uma recaída, mantenho o objetivo por mais 30 dias. E quantos 30 dias forem necessários até me desligar completamente.
De acordo com o meu sábio amigo, eu ainda tenho uma janela de cinco meses em que corro o risco de fazer várias bobagens por aí. Eu já tomei o primeiro passo para evitar que o estrago seja grande, que é estar consciente dos meus atos. De qualquer forma, estou avisando os amigos mais próximos para ficarem atentos: se eu começar a agir feito uma junkie procurando drogas, eles estão autorizados a tomar conta do meu celular e me amarrar, se for preciso, para me manter longe do perigo.